O papel das competências de comunicação não-verbal dos enfermeiros na experiência subjetiva de sofrimento de pessoas com doença oncológica
Palavras-chave:
Cancro, Comunicação Não-Verbal, Empatia, SofrimentoResumo
A doença oncológica surge de forma inesperada na vida das pessoas, induzindo um profundo sofrimento que apela à construção de uma relação de ajuda, onde a comunicação não-verbal se afigura como pilar major. Neste âmbito, a investigação ainda é incipiente pelo que neste estudo pretendeu-se analisar o impacto das competências de comunicação não-verbal dos enfermeiros na experiência subjetiva de sofrimento da pessoa com doença oncológica, e ainda, explorar o papel das competências de comunicação empática nessa relação. Recorreu-se a uma amostra de conveniência simples, constituída por pessoas com doença oncológica (N = 84), internadas em hospitais do distrito de Braga. A média das idades é de 60.99 anos (DP = 14.08). O protocolo de avaliação englobou um questionário sociodemográfico e os seguintes instrumentos: Escala de Avaliação da Comunicação Não-Verbal dos Enfermeiros (McIntyre & Lage, 1996); Escala de Avaliação da Comunicação Empática (McIntyre & Lage, 1996); e Inventário de Experiências Subjetivas de Sofrimento na Doença (McIntyre & Gameiro, 1997). Constatou-se um efeito independente da Comunicação Não-Verbal dos Enfermeiros nas Experiências Positivas de Sofrimento na Doença (F (1,82) = 4.02; p<.05; R2
= 3,5%). Verificou-se que níveis mais elevados de Comunicação Empática exibidos pelos Enfermeiros na dimensão Escuta/
Interesse se constituíram preditores significativos de menor Sofrimento Global do doente (F (7,75) =2.91; p ≤. 010; R2 = 14%; β = -.289). A Comunicação Não-Verbal dos enfermeiros apresentou-se preditor significativo da Comunicação Empática percebida pelos doentes (F (6,58) = 18.21; p < .001) explicando 61.7% da variância. A Comunicação Empática Escuta/Interesse exerceu um efeito de mediação na relação entre a comunicação não-verbal dos enfermeiros e o sofrimento do doente (Z = -2.03, p =.042; IC 95% [-.453; -.008]).
Estes resultados reforçam a relevância da comunicação dos enfermeiros e a necessidade de implementar programas promotores das competências de comunicação no contexto oncológico, valorizando a comunicação clínica como estratégia terapêutica na transição positiva de doentes oncológicos.
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